Mudança rima com insegurança.
No meu caso, mesmo quando o entusiasmo e a alegria tomam conta de mim, a apreensão permanece latente.
Quando a mudança é imposta, a apreensão deixa de ser dissimulada e mistura-se com angústia e ansiedade.
A minha adaptação aos locais, às pessoas, aos projectos, é lenta e gradual.
Geralmente, também é profunda.
Com estas características, como é que sobrevivi a 17 mudanças compulsivas de casa?
Com angústia, na adaptação; e com angústia, no momento da despedida.
Houve casas, com um espírito tão forte e tão apaixonante, que saltei a primeira “angústia”.
A casa da minha Avó Rosa é o caso perfeito desse sentimento.
Mas nem incluo esta casa no rol das mudanças, foi um regresso. A casa onde fui sou pequenina.
Uma casa nova implica uma mudança de cenário, uma nova personagem, uma representação de uma peça desconhecida, cheia de imprevistos e peripécias.
Ao longo de 17 casas, representei muitos papéis, contracenei com muitos actores, vivi muitas vidas, brilhei e sucumbi a vários desfechos.
Agora, acertei no meu cenário e protagonizo o meu melhor papel.
Este foi o cenário onde comecei a ensaiar.
Foi na torre, em Avis, que vivi os primeiros meses de gravidez.
Durante alguns meses, estive, de facto, mais perto do Olimpo.
O nome da minha filha.
Só para tranquilizar-vos: quando referi as mudanças excessivas de casa e usei a palavra “compulsivas” não significa que sofra de uma perturbação que me leve a andar sempre a fazer e a desfazer malas e caixotes; foi mesmo por obrigação profissional e, poucas vezes, pelas circunstâncias da vida.
21 de Outubro de 2013 às 22:39
Ana ,
Disseste …” dezassete ” ????? 😦
Dezassete mudanças de casa ??????
Eu morria ! Morria mesmo.
Pobre Ana…toda a minha solidariedade…Eu sou professor e vejo muitos colegas passar por esse “filme ” .
Agora 17 mudanças……….
Olha que deve ser complicado !
17 contratos de água ,de luz, etc….
Beijo
José
22 de Outubro de 2013 às 10:56
Pois é, José, contei dezassete.
Não sei se me escapou alguma 🙂
Aprende-se a viver com menos, para facilitar a próxima mudança.
Mas esta diáspora também deixa marcas. Tenho uma preguiça de fazer as malas; até para viajar.
Continuo a gostar de partir; só não gosto mesmo é da parte de embalar roupa 😦
É difícil adivinhar a minha profissão?
Beijo,
Ana
22 de Outubro de 2013 às 17:44
Ana,
Os preparativos para viajar são sempre o pior…concordo e subscrevo.
Fazer malas …nem se fala.
Ser obrigado a tanta mudança ,acho inacreditável.
Para a tua adivinha…. respondo : acho que temos a mesma profissão …….pelo cenário ! 😉
Certo ou errado ?
Beijo
José
22 de Outubro de 2013 às 19:08
Certíssimo 😉
22 de Outubro de 2013 às 3:25
Ler-te me fez bem, me fez revirar a mim mesma e rever os lugares onde vivi. Quase 12 casas e tenho dificuldade de lembrar-me dessas moradas. Mas a primeira vem comigo. É meu hiato. E vejo suas paredes. Suas lembranças. Suas coisas e a mim mesma. Peso o tempo e respiro fundo. Sou bem vinda sempre que quiser voltar, afinal, a memória a tudo preserva.
bacio
22 de Outubro de 2013 às 10:49
As casas são os nossos cenários mais íntimos; reflectem-nos e os pormenores e os cheiros ficam gravados na nossa memória. É bom recordá-las!
22 de Outubro de 2013 às 14:18
“Mudança rima com insegurança”.
Porquê?
22 de Outubro de 2013 às 14:19
Fizeste-me recordar a minha saudosa Casa da Renda…
22 de Outubro de 2013 às 14:37
Ao lado da União? Essa é muito bonita. Nunca lá entrei…
22 de Outubro de 2013 às 17:04
Vivi lá durante 25 anos!
22 de Outubro de 2013 às 19:01
Acho que fiz confusão entre a tua casa antiga (que também é muito bonita) e uma casa com ar de solar e portões altos que existe depois da União. Ou também já viveste nessa?
23 de Outubro de 2013 às 9:20
Estás a fazer confusão com a “Vivenda Deolinda”…
23 de Outubro de 2013 às 11:57
É isso mesmo, Luís. A minha cabeça já não está a fazer as sinapses completas…
22 de Outubro de 2013 às 17:05
Apesar de à primeira vista parecer que me adapto com facilidade, as mudanças muito significativas mexem comigo, levo o meu tempo a adaptar-me. Apercebo-me que com o passar dos anos, cada vez esse tempo de adaptação se vai alargando mais e mais.
Quanto às mudanças de casa, entendo cada linha do que dizes! Não por ter mudado de casa muitas vezes, mas porque sempre tive mais do que uma casa ao mesmo tempo (a da cidade durante a semana, a do campo aos fins de semana, e na faculdade ainda tinha uma terceira em simultâneo) e sempre andei de trouxa às costas…
22 de Outubro de 2013 às 19:05
“Apercebo-me que com o passar dos anos, cada vez esse tempo de adaptação se vai alargando mais e mais.” É mesmo isso!
Agora, então, uma mudança surge-me à mente como uma tarefa hercúlea 🙂
Ter duas casas em simultâneo também implica uma enorme dispersão…
22 de Outubro de 2013 às 18:55
E eu que pensava que era uma exagerada em mudanças! Mas ainda «só» mudei 14 vezes! 😉
Pode ser muito aflitivo às vezes, mas também origina novas esperanças e expectativas.
E afinal, aumenta a nossa capacidade de adaptação a novas circunstâncias e a diferentes situações – uma das leis naturais da sobrevivência… 🙂
22 de Outubro de 2013 às 19:13
14 casas já são uma amostra significativa 🙂
O lado positivo é esse: “aumenta a nossa capacidade de adaptação a novas circunstâncias e a diferentes situações”.
E obriga-nos a conseguir transformar locais, com condições diferentes, num lar.
E aprendemos que um lar é muito mais do que uma acumulação de objectos…
Ana
22 de Outubro de 2013 às 19:12
Confesso que adoro uma mudança, de casa então, melhor ainda. Não sou muito de olhar para trás, sempre preferi acreditar que lá na frente encontrarei uma alegre surpresa e as lembranças carrego na memória, até fotos procuro não tirar. Gosto da ideia da história que ficou na minha cabeça, mesmo que ela seja uma releitura bem vaga do que realmente aconteceu. Gosto demais do aprendizado que as mudanças proporcionam. Beijo!
22 de Outubro de 2013 às 19:18
Gostei muito de ler esta perspectiva.
Acompanhou-me nas primeiras dez mudanças 🙂
Agora falta-me mesmo a energia. Claro que também não tenho o dom da Helka.
Beijo!
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