Quando alguém me fala dos empregos criados pelas grandes superfícies e pelas grandes empresas nacionais e internacionais, eu penso em todos os empregos que se perderam, todas as lojas de bairro que fecharam, todas os pequenos produtores e intermediários que foram cilindrados.
Se este discurso é de esquerda ou de direita, pouco me interessa.
Há muito que os meus actos políticos se distanciaram dos partidos.
E, quer tenhamos consciência ou não, a verdade é que quase todos os nossos actos são políticos.
Desde o que escolhemos tomar ao pequeno-almoço, à quantidade de sapatos que temos, à forma como nos deslocamos, ao que fazemos ao fim-de-semana (enchemos os centros comerciais?), aos móveis que compramos no IKEA, ao que decidimos reciclar e trazer para nossa casa; à música que ouvimos ou aos livros que lemos.
Comprar muito e barato ou pouco e mais caro também são decisões com implicações globais e, consequentemente, políticas.
Optar por marcas brancas ou por marcas portuguesas com tradição faz a diferença entre nos “globalizarmos” ou mantermos a nossa identidade.
Mas são mais caras!
Pois são, porque implicam mais despesas.
Mas será que precisamos mesmo de comprar tantos pacotes/t-shirts/sapatos, …?
Acho que tomei a verdadeira noção das consequências dos meus atos, quando me reaproximei da terra, comecei a trabalhar com as mãos e quis deixar o mundo um local melhor para a minha filha.
Reduzi consideravelmente o consumo, reciclo roupa, móveis, tenho o carro mais velho dos parques de estacionamento das imediações e tento ser mais autónoma através da horta.
Consegui mudar todos os antigos hábitos e vícios?
Não, mas sei qual é o caminho.
Todas estas peças tão bonitas e delicadas são deste atelier.
Esta entrevista é de alguém que levou esta experiência ao limite.
14 de Julho de 2014 às 20:00
Lendo você, percebo que existe uma necessidade natural de voltar a si mesmo, não digo para começar de novo, mas para lembrar que muito antes de nós, os nossos antepassados eram felizes com pouco e viviam muito bem. Gostei da frase “todos os nossos actos são politicos”. Fato.
bacio
16 de Julho de 2014 às 13:21
Lunna,
a vida nunca foi fácil, mas concordo absolutamente: não é a abundância material que nos dá a Felicidade.
Bacio,
Ana
14 de Julho de 2014 às 20:40
Também tento ao máximo apoiar o comercio local. Acho que viver num bairro histórico ajuda bastante. Existe uma maior proximidade com os comerciantes e sabemos de onde vêm os produtos. Dois dedos de conversa bastam para sabermos o que compramos. Quanto ao resto, acho que vivemos numa sociedade cada vez mais consumista. Enquanto que antigamente um utensílio de cozinha dava para uma vida, hoje em dia são descartáveis. No mês passado ganhei uma kenwood da minha avó materna que era pasteleira (entre tantas outras coisas). É uma máquina dos anos 60 de qualidade, que continua a funcionar na perfeição. O mesmo se pode dizer dos moveis ou da roupa. Por vezes fico com a impressão que as pessoas preferem gastar pouco e sem qualidade, nas multinacionais, do que dar um pouco mais de dinheiro por artigos que podem durar uma vida. Bjs 🙂
16 de Julho de 2014 às 13:38
Ana,
hoje é muito difícil encontrar produtos para toda a vida/com qualidade.
Só numa carpintaria é que consegui encontrar prateleiras de madeira maciça bonitas.
Beijinhos
14 de Julho de 2014 às 22:33
o atelier tem coisas lindas, a senhora alemã é muito lúcida, viveu uma experiência bastante radical, mas o mais importante disto tudo passa pelas famílias ensinarem às crianças e jovens a ter o que precisam e não o que desejam. pelo menos é o que eu acho. beijinhos. 🙂
16 de Julho de 2014 às 17:09
Ensinar os mais pequenos a ir contra a corrente pode ser a solução para o consumismo desenfreado em que vivemos.
15 de Julho de 2014 às 8:25
Olá Ana,
O meu carro é, sem dúvida o mais velho do parque automóvel do Museu e ninguém compreende porque ainda não troquei; visto camisolas e saias com mais de 10 anos (as botas mais usadas este inverno têm 21 anos!); nas últimas duas estações não comprei uma única peça de roupa, porque na realidade tenho em excesso e não lhe dou a volta; compro o mais possível aos produores locais e procuro o comércio tradicional, mas como bem deves estar recordada, nesta cidade não é fácil; “reciclo” cada vez mais e começam a surgir nos louceiros lá de casa, taças e chávenas com mais de 50 anos que fui buscar às avós… ainda assim estou longe desse estado de ideal de despojamento embora cada dia veja com mais lucidez a diferença entre ser e ter!
Quando vens?
Um abraço,
Guida
16 de Julho de 2014 às 17:13
Guida,
às vezes não é fácil e as cidades pequenas sofrem ainda mais desse mal: acontece na Figueira e também em Estremoz e Elvas.
Eu também ainda estou longe “desse despojamento”, mas tenho vontade!
Vou nos últimos dias do mês 🙂
Um abraço,
Ana
15 de Julho de 2014 às 15:54
Muito interessante a entrevista com a Greta Taubert, ela toca em pontos fundamentais para quem se preocupa (assim como eu) com o hiperconsumismo. E você está certíssima, todas as decisões que tomamos acabam sendo políticas, de uma forma ou de outra.
16 de Julho de 2014 às 17:14
Verdade!
Um abraço!
15 de Julho de 2014 às 18:19
Ana, este teu artigo fez-me muito sentido. Concordo que vivemos numa sociedade consumista, que é fácil cair na tentação de o ser. No meu dia a dia, também reutilizo e reciclo muitos materiais (desde móveis, a roupa/tecidos), mas ainda sinto a necessidade de me aproximar do que é simples e tradicional. Às vezes quando entro em grandes multinacionais de roupa, vem-me a palavra “trapos” à cabeça, pois acabam por não durar nada e têm preços irrisórios à custa de muito sacrifício e trabalho precário de outros. É bom gostar do que é genuinamente português, pois são sempre peças bonitas e com muita qualidade, como as que partilhaste. Beijinho
16 de Julho de 2014 às 17:14
Em sintonia!
Beijinhos
15 de Julho de 2014 às 18:51
Que post interessante Ana! Faço este caminho também há mais de um ano. É um caminho longo e cheio de dificuldades pelo caminho. Mas mesmo a passo lento faz mais sentido que a “vida do antes”…cheio de coisas e de amarras.
Um ato politico a cada passo…nunca tinha olhado desse prisma, mas concordo contigo.
Beijinhos
16 de Julho de 2014 às 17:15
Também vou caminhando 🙂
Beijinhos
15 de Julho de 2014 às 18:59
Olá, Ana !
… ” eu penso em todos os empregos que se perderam, todas as lojas de bairro que fecharam, todas os pequenos produtores e intermediários que foram cilindrados.”…
Concordo ,subscrevo e lamento.
É assim mesmo !
Gostei muito do teu post ( para variar ) . 😉
Olha,um beijo
José
16 de Julho de 2014 às 17:25
Olá, José!
Desta vez, estamos em sintonia.
Ainda bem 🙂
Este tema preocupa-me bastante, porque sinto que estamos a perder a nossa identidade e tudo o que é tradicionalmente nacional passa a ser um produto de luxo.
Um abraço,
Ana