Tenho procurado encaminhar a Beatriz para uma visão fraterna entre os Homens: um olhar sobre Nós e sobre o Outro que procure o essencial e ultrapasse a superfície – a cor, a roupa, o tamanho do nariz, …
Mas há pouco tempo a reacção da Beatriz surpreendeu-me:
-Não gosto de dar beijos a caras escuras. As caras escuras têm coisas más.
-O quê?!
-O G. diz que as caras escuras, chamam-se morenas, têm coisas más.
-O G. está enganado. Como sabes, o G. faz muitos disparates na escola.
Tomei consciência de que, para o bem e para o mal, a Beatriz já não está na redoma familiar.
Há temas que temos de retomar.
Encontrámos estas árvores no Parque Eduardo VII, no ano passado.
E temos partilhado as nossas noites com Karim.
Tal como a Beatriz, Karim gosta muito de ir ao mercado com a Mãe.
E o que aconteceria à Beatriz se se perdesse da sua Mãe?
Ficaria com “lágrimas a deslizar pelas faces abaixo”.
Talvez em Estremoz não encontrasse tantas árvores grandiosas, seculares e generosas.
Talvez um embondeiro não lhe desse pão-de-macaco com facilidade.
Mas teria uma Mãe a partilhar a aflição da Mãe Kahdija.
E a sonhar com a sua mão.
E com o seu abraço.
Vivemos em contextos muito diferentes, mas o livro salienta a igualdade dos sentimentos primordiais: o amor pais/filhos e o respeito homem/natureza.
Temos de lê-lo mais vezes!
Escrito por Régine Raymond-García, depois de uma viagem a Burquina Faso, e ilustrado por Vanina Starkoff.
A edirora: OQO.
9 de Fevereiro de 2015 às 22:17
sempre um apontamento de rara beleza sobre a literatura infantil e a sua mensagem! boa semana. 🙂
10 de Fevereiro de 2015 às 8:47
Este livro parece-me muito amoroso. 🙂 Os nossos filhos são mesmo do mundo… Resta-nos ir tentando que as sementes dos princípios humanos que lhes tentamos incutir, fiquem bem acolhidas nos seus corações. Beijinho
10 de Fevereiro de 2015 às 11:20
Nossa, deve ser espantoso essa percepção de que, não apenas nos, mas o mundo como um todo, é responsável pelo seremos amanha. Será que certo mesmo estava o pequeno príncipe?
Bacio
11 de Fevereiro de 2015 às 14:59
Olá,Ana !
Bonita a forma como estás a “dar a volta ao texto “, tão vulgares em todas as crianças.
A Beatriz deve ser muito amiga do G. 🙂 Só pode ! E ainda bem ! Será ela a “dar a volta” a este momento do G.
Nada para ser levado muito a sério !
Com estas ilustrações / livro, tudo irá ficar “sentido / marcado” na cabecinha da Beatriz.
É assim mesmo,menos conversas “da treta ” e mais formas de valorizar o que deve ser o bom caminho .
Ser enc. de educação é difícil ! 🙂
Eu vejo assim.
Beijo,
José
12 de Fevereiro de 2015 às 14:09
José:
Vês muito bem!
Às vezes, mais do que a “conversa” resulta o exemplo.
Beijinho,
Ana
11 de Fevereiro de 2015 às 17:59
Anseio pelo tempo em que poderei ler livros tão bonitos como este com a minha Íris. Obrigada pelas belíssimas sugestões.
12 de Fevereiro de 2015 às 14:07
É, de facto, um prazer folhear estes livros todas as noites.
Em breve chegará a altura 😉
12 de Fevereiro de 2015 às 15:08
Que bonito. Há uns tempos atrás entrei com o Gil na casa de banho de um pequeno centro comercial e uma senhora africana (muito bonita por sinal e de pele muito negra) estava a sair. Reparei no olhar dele (era muito evidente a desconfiança) e achei graça que a seguir desabafou: aquela senhora era má! A verdade é que nos nossos percursos rotineiros não nos cruzamos com muitas pessoas de pele negra. Daí a desconfiança. Acho que não deve haver nada mais preocupante do que algo tão semelhante a nós, mas ao mesmo tempo tão marcadamente diferente. De repente, perdemos o controlo 🙂
14 de Fevereiro de 2015 às 16:42
Adoro estas sugestões de livros infantis. É normal esse tipo de coisas acontecer quando eles caminham para fora do circulo familiar, mas aos poucos a aprendizagem que têm em casa retoma o seu lugar devido. Acredito nisso. 🙂
18 de Fevereiro de 2015 às 13:47
Que belas ilustras! Pois é, um dia os pequenos rumam para o mundo, para o aperto de nossos corações. Também tento passar valores nos quais acredito para que saibam voltar quando quiserem e também saibam fazer a melhor escolha. Beijo