Nos blogs das mães famosas, aquelas que recuperam a forma num ápice e têm empregados que as substituem nas tarefas domésticas (e não só), a maternidade aparece como a experiência mais glamorosa de sempre.
São os empregados, é a maquilhagem, são os fotógrafos e os filtros de edição de imagem que criam uma realidade que não existe.
Eu, que não sou famosa, que me debato diariamente com os problemas de uma mãe de classe média, com uma profissão exigente, mil ideias para concretizar, razoavelmente privilegiada, também caio em tentação e apenas refiro o lado maravilhoso e encantador de ser mãe.
Esse lado existe e prevalece, mas o outro lado também cá está.
No balanço dos dias, esse outro lado imperfeito não se impõe; quer dizer, no balanço da maior parte dos dias, não se impõe… mas existe:
1- O parto foi a experiência mais violenta e assustadora pela qual o meu corpo (e alma) já passou. Felizmente, um anestesista misericordioso administrou-me a anestesia epidural quando cheguei de ambulância ao hospital. O que significa que apenas estive no átrio do inferno de Dante.
2- O pós-parto fez-me sentir vítima de um atropelamento por um camião TIR: só não me doíam as mãos e os pés… durante vários dias… melhorou, mas continuei a sentir muitas dores durante semanas.
3- A amamentação equipara-se, nos primeiros dias, a uma tortura sádica!
4- No primeiro mês, o cérebro não pensa, só reage: são tantas as solicitações, as aflições, as inseguranças, as dores, a privação de sono!
5- O meu bebé não se comportava como eu idealizava: não era suposto ficar no berço e dormir? O meu chorava, chorava, chorava!
E sujava a fralda e bolçava a roupa… aquela clarinha e fofinha que eu tinha comprado para a minha boneca idealizada.
6- Eu não sabia que os bebés tinham cólicas e choravam de forma inconsolável, sobretudo a partir das 20:00h, quando nós já estamos de rastos.
7- Nos 3 primeiros anos, foi aflitivo não ter tempo, sobretudo para estar só comigo. De repente, ninguém compreende que essa seja uma necessidade básica para manter a sanidade mental. Mais grave ainda, eu própria não me dava esse espaço, porque tinha sempre de…
8- Por outro lado, foi absolutamente doloroso deixar a minha filha com outra pessoa e ir trabalhar. Nos anos seguintes, houve dias em que trabalhar era um momento para respirar fundo e descontair. Nunca o admiti, claro!
9- Corresponder à imagem que os outros têm de ser mãe é difícil. Corresponder à imagem que eu tenho de ser mãe é impossível. Aprendi a ser menos exigente comigo e a aceitar que existo enquanto Ana. A luta continua…
10- As birras são difíceis, mas mais difícil é ser adulto e não responder com uma birra a outra birra.
11- Viver com as incoerências e aceitá-las é um desafio: durante o fim-de-semana, quase sufoco com a Beatriz pendurada durante todo o dia no meu pescoço; durante a semana, sinto tanta falta daqueles bracinhos pendurados no meu pescoço…
12- A Beatriz só tem 5 anos: imagino de que forma a lista vai crescer nos próximos anos.
Durante a gravidez nunca ninguém me falou destas verdades terríveis;
provavelmente nem todas as mulheres as partilham,
provavelmente muitas mulheres esquecem-nas.
Eu própria tive de fazer um esforço para me lembrar das primeiras…
Será um fenómeno natural para que queiramos ter mais filhos?
As fotografias são do blog de Chiselle Lim que, com muita graça, diz que o glamour das imagens do seu blog se devem aos fotógrafos e à edição.
25 de Abril de 2016 às 0:45
Acho que a oxitocina ajuda a esquecer as fases mais exigentes! 😉 Revi-me muito nos pontos que referiste, agora temos de experimentar as fases seguintes! 😉 Beijinho
25 de Abril de 2016 às 15:14
Esperando também as fases seguintes, Joana!
Com as suas maravilhas e com as dificuldades!
25 de Abril de 2016 às 7:09
Há tanta coisa que não se diz acerca da maternidade. Por algum motivo estranho considera-se que assim que alguém se torna mãe (ou pai) um mundo maravilhoso começa.
25 de Abril de 2016 às 15:13
É verdade que começa um mundo maravilhoso… mas com alguns espinhos 🙂
25 de Abril de 2016 às 16:30
Meu parto foi muito mais tranquilo do que imaginava. Mas a maternidade, no começo, foi muito difícil! meu bebê também chorava e continuou chorando por 1 ano e meio! A vida virou de cabeça para baixo e cheguei a invejar todas as pessoas só pelo fato de que elas dormiam a noite inteira!
Mas passou! E apesar de ter sido duro, em nenhum momento meu filho deixou de ser uma grande alegria, talvez a maior da minha vida.
E não, ninguém compartilha essas experiências. Talvez o futuro da humanidade fosse seriamente afetado, hahahaha.
Bjs
25 de Abril de 2016 às 16:46
Rebeca:
Não é fácil!
Achei muito perspicaz o último comentário; é mesmo isso 🙂
Beijos,
Ana
26 de Abril de 2016 às 14:41
Um post muito útil e no qual me revi e não me revi… eu explico:
O meu primeiro filho foi um passeio no parque, a minha licença de maternidade foram as melhores férias que já tive e apesar da privação de sono ser considerável, a maternidade era algo de fantástico (mesmo sem empregados e fotógrafos e edição de fotos).
Por essa razão e outras diferentes desejei muito o segundo filho. Achava que ia ser parecido…
Os partos foram ambos iguais, cesarianas de emergência em que eu corri risco de vida. Só que enquanto a 1.ª cesariana foi uma coisa sem importância, a 2.ª custou-me horrores a recuperar!
Enquanto o meu primeiro filho foi um anjinho, o segundo chorou dia e noite nos primeiros 3 meses e mamava de 1h30 em 1h30. Não vivi para quase absolutamente mais nada. Hoje ele tem quase 2 anos e só a partir de 1 ano é que consegui começar a dormir em condições mínimas, mas nem assim… e o meu mais velho que poucas noites dormiu na minha cama, tenho agora o 2.º a dormir exclusivamente na minha cama, porque se recusa a dormir noutra que não essa.
Se a maternidade no primeiro foi um ídílio, a maternidade no segundo tem sido quase uma descida aos infernos, afectando a minha relação com o primeiro (que tem sofrido os efeitos de privação constante e extrema).
Se na primeira maternidade ir trabalhar custava horrores e ansiava pelos fins-de-semana, na segunda receio-os e ir trabalhar é uma forma de “descanso”. E na segunda maternidade desejo veementemente ter empregados!
E se na primeira maternidade, aprendi que nunca mais iria estar sozinha, na segunda maternidade percebi o quão desesperadamente preciso estar sozinha comigo mesma (lição extremamente importante que havia aprendido há tantos anos, antes mesmo de ser mãe e constituir família…)
Se os amo de morte a ambos?! Sim! Mas de formas totalmente diferentes!
26 de Abril de 2016 às 15:49
Obrigada, Naná!
De facto, há muitas formas de viver a maternidade porque todas as crianças (e mães) são diferentes!
Eu nunca tive a versão anjinho 😉
Agora, a conclusão é mesmo inquestionável!
Beijinhos para os 3!
Ana
27 de Abril de 2016 às 2:38
Ser mãe é dureza mesmo e um “contrato” pra vida toda! Acho que vamos nos esquecendo dos perrengues, porque a próxima fase é sempre mais difícil…rs. Mas, apesar dos pesares, é delicioso, é um amor violento, algo bem contradotório mesmo. Beijo
27 de Abril de 2016 às 9:24
É isso mesmo, Helka 😉
4 de Maio de 2016 às 22:50
A minha filha tem agora 10 anos mas a gravidez nunca se esquece, pelo menos eu nunca poderei esquecer a minha. Independentemente do processo de transformação físico pelo qual uma mulher passa, o qual, pessoalmente, acho desconfortável e não propriamente gracioso (apesar de a maior parte das pessoas achar que as grávidas ficam muito lindas!).
Posso dizer que emagreci imenso na gravidez, de tal forma que apenas no quinto mês consegui ganhar peso. Parecia um cadáver ambulante.
Às 16 semanas fui operada com uma peritonite. Estive à beira de morrer e nem sei como ainda cá estou, eu e a minha filha.
Com 33 semanas fui internada com risco de parto prematuro e tive de ficar em casa até nascer a minha menina.
No dia do parto entrei para a maternidade sem líquido amniótico. A João tinha rebentado o saco por cima e eu não tinha dado conta, estava com risco de nascer deficiente há quase 24 horas.
Passei a minha gravidez sozinha, sem apoio de mãe, nem pai, nem familiares, nem amigos, apenas com o apoio de meu marido.
A reação da minha irmã ao saber que ia ser tia foi insinuar que eu viria a ter um aborto.
Foi uma época muito dura, mas por vezes são necessários momentos como esses para abrirmos os olhos e crescermos.
Pena que associado à mais bela recordação da minha vida tenha de arrastar cicatrizes profundas.
Mas o meu caso é uma excessão, felizmente.
Apesar de tudo o que passou, gostava de ter outro filho.
O amor tudo supera.
🙂
5 de Maio de 2016 às 10:40
Foram momentos muito complicados!
Mas assim nasceu uma família bonita e unida!
A vontade de ter outro filho, por vezes, também por aqui passa 🙂
E é verdade o Amor é a Força!
Beijinhos e obrigada!