“Quando o amor acaba, a tragédia é minimizada porque já sabíamos que “o amor acaba”.
O fim de uma amizade é uma surpresa mais chocante”, escreveu [Mexia] numa crónica para o PÚBLICO, em 2008, intitulada Teoria geral do ex-amigo. “A mitologia diz que os amigos são indestrutíveis e eternos. Há, por isso, um grau de decepção no fim de uma amizade que cobre de vergonha os envolvidos.”
De um amor que desaparece pode dizer-se que se confundiu o amor com uns olhos azuis, como ironizava Mexia na crónica. “Nunca mais me apaixono”, ouve-se tantas vezes. Vale o que vale, mas quem já não viu alguém mais ou menos abalado fazer essa promessa?
Este artigo do Público atingiu-me e ajudou-me a verbalizar sentimentos.
Também eu perdi um amigo.
Não foi a distância geográfica ou a vida do dia-a-dia que nos afastou: penso que estas circunstâncias até se aceitam – encolhemos os ombros e pensamos “É a vida!” e, pelo menos, temos uma desculpa (ainda que aparente) que justifica o fim da relação.
Mas e quando um amigo diz que não quer mais ser nosso amigo? Que precisa de se afastar?
Durante anos não me conformei e insisti.
Lutei por essa amizade como nunca lutaria por uma relação amorosa.
De facto, estamos preparados para ver um grande amor partir: sabemos que ficamos devastados, que vamos chorar muito mas, enfim, também sabemos que nos vamos levantar.
Em relação aos amigos, encaro-os com a seriedade com que se encara um grande amor, mas pensando que não vai ter fim:
Foi uma sorte o nosso encontro e a vida fica mais leve se for partilhada contigo!
Foi por isso que não aceitei o fim.
E por ver uma pessoa tão importante da minha vida a desaparecer.
E por ver a minha vida a ficar mais pobre.
Fica assim um vazio, uma sombra cinzenta no coração.
A tristeza que fica perdura no tempo. “Uma tristeza mais suportável e mais duradoura que a tristeza amorosa”, nas palavras de Pedro Mexia.
Uma tristeza que fica, apesar dos anos.
Imagens do blog de Saar Manche.
4 de Outubro de 2016 às 7:28
Nunca tinha pensado muito nisto, mas é mesmo assim, doloroso e triste. Beijinho grande
4 de Outubro de 2016 às 10:50
É bom sinal, Joana. Acho que só somos obrigados a pensar nessa dor quando nos acontece: eu até pensava que não existia ou que nunca iria descobri-la 😦
Beijinhos
4 de Outubro de 2016 às 14:23
Eu perdi várias amizades ao longo do tempo, apesar de lutar com unhas e dentes para que a amizade não se perdesse…
Só aprendi a relativizar mais a coisa (o que não ameniza de todo a dor…) quando depois dumas sessões de psicoterapia, a minha psicóloga me colocou as coisas da seguinte forma:
“as pessoas entram na nossa vida por uma razão e quando esse propósito foi cumprido, elas saem, porque as pessoas existem na nossa vida para que aprendamos algo, positivo ou não. Não adianta agarrar-nos mais a essa pessoa, se ela não quer estar na nossa ou se achamos que ela já não tem presença ou lugar na nossa vida.”
basicamente ajudou-me a perceber que o melhor caminho é a aceitação. Se é fácil aceitar…? Tem dias…
4 de Outubro de 2016 às 16:32
Naná,
são palavras sábias, sem dúvida, e faz-nos refletir que tudo na vida tem um propósito.
Essa ideia tranquiliza-nos quando se instala o caos.
Obrigada, Naná!
Beijinhos,
Ana
6 de Outubro de 2016 às 20:02
Eu escrevia sempre uma frase de Dickinson em minhas agendas-diários ‘deixe aberta a porta do cuore para que o amor partir”… (tradução direta) e ontem ao trabalhar um texto-personagem me deparei com a fala ‘o amor é muito bonito na tela do cinema. É eterno e fim, mas na vida real ele é precisa ser apenas fim porque se fosse o contrário seria insuportável’.
Dei risada e me lembrei das muitas pessoas que eu deixei ir porque sou sagitariana (preciso culpar alguém) e não gosto que as pessoas fiquem apenas por ficar, eu quero que elas fiquem porque é desejo, vontade… não sei insistir. E já estou velha demais (pausa para a gargalhada) para aprender certas coisas. rs
bacio, vou lá ler o artigo
13 de Outubro de 2016 às 17:25
Ana,
sei bem esse sentimento. Nem me apetece pensar muito nele. Vivi-o com tanta dor que continua a ser difícil voltar a esse assunto. O Pedro escreve tão bem sobre sentimentos profundos, não é?
Fica com um abraço,
Guida
13 de Outubro de 2016 às 17:39
Guida,
é uma dor num local do coração que não está minimamente preparado para ela.
Só as palavras do Pedro me fizeram começar a verbalizá-la: para mim é importante libertá-la aos poucos porque está demasiado densa (apesar de já terem passado anos desde a ruptura…).
Obrigada, Guida, e reenvio um abraço!
Ana