Quando tinha 20 anos tinha a arrogância… dos 20 anos:
muitas certezas e a consequente altivez, inclusivamente em relação à nossa Língua.
Vivia na Figueira da Foz, estudava na Faculdade de Letras de Coimbra, portanto “falar bem” eu sabia…
Aos 22 anos, fui viver para o Alentejo profundo e aprendi que o meu conhecimento da Língua era muito pobre.
A riqueza de uma Língua reside na sua diversidade e eu, desse ponto de vista, era uma ignorante…
Passei a fixar pronúncias e a encantar-me com a melodia de cada região.
Observei o que tinha estudado na cadeira de História da Língua: eu tenho uma pronúncia que é circunstancialmente valorizada, tendo em conta o contexto social, político e até económico em que vivemos.
Uma pronúncia tão valorizada que é designada como língua padrão, mas sem os juízos valorativos que os falantes (de Coimbra e Lisboa, sobretudo!) lhe pretendem dar.
Aliás, quando a corte estava instalada a Norte, adivinham qual era a norma padrão?
É pelo facto de ser tudo tão circunstancial que me arrepio quando ouço alguém ridicularizar a pronúncia do outro.
É um comportamento que, para além de revelar falta de educação, evidencia um profundo desconhecimento da História da nossa Língua.
Fico ainda mais envergonhada quando estas atitudes vêm de pessoas com formação e que chegam ao Alentejo com a tal sobranceria que eu tinha aos 20!
Para além do contexto histórico que referi, fico muito feliz por não estarmos padronizados.
Gosto especialmente de regionalismos, arcaísmos e neologismos;
todas as variedades que revelem que a nossa língua está viva, dinâmica e cheia de saúde.
v.h.m. diz mesmo que, por vezes, usa nos seus livros neologismos, palavras de outras línguas que ele “aportuguesa” e que, por serem tão expressivas, não impedem a sua compreensão.
E que dizer então de Mia Couto ♥
Imagem de Joana Rosa Bragança.
6 de Março de 2017 às 18:16
Amei esse post, o tinha deixado em minha caixa de entrada em estado de espera para um dia mais calmo (coisa cada vez mais raro) e já tinha pensado, frequentamos a ‘mesma ilha’. Cursei psicologia em Coimbra. rá
Ah vasto mundo, como disse Drummond. rs
Eu adoro o português, embora algumas palavras não façam o menor sentido para mim, mas gosto imenso de certas sonoridades. A música me encanta, na voz do Tom, do Chico (embora goste cada vez menos desse senhor) e Marisa Monte, que parece recitar poesia. Há também Caetano e Bethania que recitou Pessoa e eu amei.
Gosto, sem dúvida, da diferença dessa língua, a que aprendi em Coimba, da que ouvi em Lisboa e das que se falam cá. Em São Paulo há sonoridade italiana e de tantos outros idiomas. O plural italiano ‘contaminou’ o português. O de Mia é muito próximo do que se fala em Portugal, mas tem sua diferença.
Ok, vou parar ou ficarei nessa conversa pelos próximos dias. rs
bacio
6 de Março de 2017 às 19:24
Lunna, partilhamos mesmo a ilha! Tudo o que escreveu podia ter sido escrito por mim: desde cantores às melodia dos lugares. E agora fiquei com uma vontade danada de ir a São Paulo. Bacio!
6 de Março de 2017 às 19:31
Venha, que lhe recebo e apresento os lugares por onde me perco… será imenso o prazer carissima, já que Coimbra nos escapou. rs
6 de Março de 2017 às 22:02
Um abraço apertado ❤❤❤