Elvas, 2017
Exercício do dia:
-Cada um vai perspectivar-se no futuro: daqui a 7 anos como é que gostariam que fosse a vossa vida? Os sonhos não têm limites, certo?
Respostas entre o “certinho” e o “louquinho” que me encheram de alegria… excepto num dos grupos de 25 jovens.
Neste grupo, 23 disseram: trabalhar, casar e ter filhos.
Nada contra o plano, a minha filha foi o melhor que me aconteceu e adoro o meu trabalho… mas de corações a bater há 18 anos esperava mais irreverência.
Preocupa-me o facto desta resposta reflectir uma vontade genuína (e se for isso encantada da vida!) ou se reflecte falta de alternativa, falta de ambição e falta de capacidade de sonhar.
Nesse caso, preocupa-me que, de alguma forma, os sonhos estejam a ser roubados aos jovens desta geração.
Numa Europa assustada e militarizada, num mundo inseguro, por onde proliferam a miséria material e a de espírito, nesta ditadura da produtividade e do individualismo, projectos como “dar a volta ao mundo”, “fazer voluntariado em África”, “trabalhar noutro país”, “viver com todos os meus amigos num prédio”, “criar uma associação para salvar animais”, “fazer parte da equipa que vai descobrir/curar/inventar…”; “adoptar uma criança” não se ouvem.
Parece que ninguém quer sobressair.
Mas o que será de nós se ninguém perseguir utopias?
O que será de cada jovem que negar a sua vontade reprimida de engolir o mundo?
Talvez seja uma das ideias mais importantes que tento transmitir aos meus alunos.
Uma ideia nem sempre fácil de transmitir e que, ultimamente, tem-me feito sentir estranhamente subversiva.
2 de Maio de 2017 às 23:33
Ter uma causa em que acredite, fazer trabalho voluntário faz bem para todos e ajuda a dar sentido à vida. Aqui no Brasil não há muita divulgação de voluntariado de adolescentes em orfanatos, por exemplo. Seria bom se houvesse. O jovem começar perto de casa a perceber o que pode ser feito já seria um começo. Bjs
3 de Maio de 2017 às 21:03
É que parece que há, hoje em dia, duas frentes: ou você é um conformista (como a maioria, e me incluo nela) ou você é um chato reclamão dado a protestos violentos. De fato, poucas são os ideais corajosos e valentes…
4 de Maio de 2017 às 14:15
Oh, Rebeca, vão-se escolhendo umas lutas e deixando outras…
7 de Maio de 2017 às 14:39
Outro dia, numa palestra sobre o tal do capitalismo, várias pessoas elogiaram e criticaram o professor, que defendeu sua teoria de que por pior que seja, ainda é o melhor sistema, o único em voga há tanto tempo. Eu entendi seu erudismo nesse sentido. Sim, capitalismo gira ao redor do consumo, mas não nos faz consumista. Até porque eu pertenço a uma geração que não teve tudo o que queria, mas a geração seguinte já teve muito mais e cresceu sem ouvir não porque muitos pais estavam ocupado com suas vidas profissionais (eu tive pais ocupados) mas o sim deles era em forma de presença (super valorizada) e não de presentes e mais presentes, como vejo nos tempos atuais em muitos cantos.
Estamos trocando experiências por experimentos. Não vamos a esquina, o aplicativo nos leva até lá. Não vamos a biblioteca, o google nos oferece tudo.
E eu ainda ouvi uma moça revoltada num programa de entrevistas com a ‘era das máquinas’ porque o humano não pode ser substituído por uma máquina e eu pensei: mas já foi… rs
bacio e um bom domingo
8 de Maio de 2017 às 15:44
Lunna,
Lido mal com esse tal de capitalismo, embora seja peça ativa da engrenagem. Sempre que posso contrario-o… e tento lançar o materialismo pela janela.
Quanto às máquinas, estão cá para servir-nos, mas tornaram-se uma peça do nosso corpo 😦 Também tenho dias de negação…
Bacio!
Ana
20 de Maio de 2017 às 13:11
Isso é triste demais, também percebo o mesmo por essas bandas. É uma geração sem paixão, infelizmente.
20 de Maio de 2017 às 19:25
Não são todos os meninos, mas haver alguns sem sonhos é muito triste!