A velocidade provoca a blindagem do coração.
Os acontecimentos sucedem-se assim como as emoções, acumulam-se em camadas até conseguirmos parar, reflectir, decidir e interiorizar.
Até lá, andamos anestesiados: insensíveis à desgraça alheia , paralisados para agir conscientemente ou para ver o outro, incapazes de nos olharmos por dentro.
A introspecção requer tempo e paz.
Há uns anos era mais fácil; tínhamos trabalho e tarefas, mas não existiam as distracções, a dinâmica cibernética e a parafernália informativa que existe hoje.
Por outro lado, apesar de assolados, hoje, vivemos num pavor do aborrecimento, do não fazer nada, do esperar.
Um medo constante de não saber o que está acontecer nos antípodas ou que alguém se esqueça de nós porque não aparecemos nas redes sociais
Esquecemo-nos que só a espera e o espaço temporal liberta o cérebro.
O meu está mesmo a precisar de ser libertado!
Ilustrações do brasileiro William Santiago.
30 de Julho de 2017 às 13:14
Eu acho estranho essa necessidade de aparecer o tempo todo. E eu vivo a admirar um poeta brasileiro Paulo Plínio Abreu, que simplesmente desapareceu, deixando apenas a sua poesia como norte. Foi em outro tempo, mas foi e é uma sombra que gosto de espiar.