A propósito de maturidade tardia, constato que vivemos hoje numa esquizofrenia que oscila entre a juventude, que se quer eterna e irreverente, e a maturidade precoce que exigimos aos nossos jovens: têm de ser responsáveis e tomar decisões para a vida aos 15 e aos 18 anos.
Como se fosse possível tomar decisões em consciência com esta idade!
Mais incrível ainda: nós, adultos, desejamos que eles não se enganem na escolha e que não percam tempo nesta escolha!
De facto, poucos são os pais ou professores que consideram natural que o adolescente tenha de parar um ano ou que sinta necessidade de repetir o caminho por outra via, devido a uma escolha precipitada.
Até nestes momentos que exigem reflexão e ponderação, nós parecemos o Coelho Branco da Alice: “É tarde! É tarde!”.
Ora, aos 15 anos, eles entram na sala de aula agitados, quase tão eufóricos como quando saem.
Elas conversam, antes de ocuparem os lugares e partilham risadinhas, vivências e músicas.
Eles engalfinham-se, roubam os lápis como na primária, riem alto demais e correm na sala, antes de uma voz os fazer sentar.
Elas irritam-se com eles e nem se riem das piadas que eles desesperadamente lançam.
Algumas já têm um ar tão maduro que me surpreendem… é verdade!
Outras ainda pensam e escrevem como meninas de 11 anos.
São 30 ritmos diferentes que tentam acompanhar a adulta que, na maior parte das vezes, lhes sorri, mas que, sempre, se angustia quando algum não consegue acompanhar o grupo.
Afinal, é a maturidade que permite a concentração, a interpretação, a abstração, o pensamento, a estruturação do discurso.
Sem alguma maturidade, quase nada se aprende. A cabeça viaja para bem longe e o olhar silencioso é só mais uma mentira que sabem que é permitida no mundo dos crescidos.
Vivemos no mundo dos objetivos, da uniformização e da aceleração e quem não é igual, muitas vezes só porque ainda é criança, não acompanha, não atinge as metas e é marginalizado pelo sistema.
Dizemos que as crianças são maravilhosas, mas exigimos que cresçam aos 6 anos, aos 10, aos 15 e aos 18!
Quando a Beatriz iniciou o primeiro ano, dei comigo a dizer que a Beatriz era muito infantil!
Aos seis anos…
Que estranho mundo, não é?
11 de Abril de 2018 às 20:53
Lhe sou sincera que estranho imenso certas coisas cá… as miúdas passam cada vez mais tempo nas escolas. Quando saem, no final da tarde, passam por mim com suas expressões cansadas. Comumente estão por demais irritadiças. Bufam feitos bois. Os adultos impacientes por seus tempos de vidas cada vez mais curtos, travam batalhas e repetem frases prontas ‘não vejo a hora que cresça e se torne responsável’.
Me lembro que quando precisei fazer minhas escolhas, quase optei por sorteio de minhas muitas opções. Escolhi a psicologia porque já conhecia (profissão de minha mãe) e não me arrependi. Aprendi muito e sou grata todos os dias a psicanalise, mas meus caminhos foram em outra direção.
bacio
12 de Abril de 2018 às 16:15
Não sei aonde vamos com esta pressa toda, Lunna!
E concordo, muitas vezes as nossas opções são mesmo uma questão de sorte!
Bacio!
12 de Abril de 2018 às 7:34
Gostei imenso deste teu post. Concordo inteiramente. Já caí nas armadilha do “infantil” aos seis anos e já me dei a projectar o futuro sem viver o presente com lentes translúcidas. Um caminho a percorrer no meu amadurecimento sobre o assunto. 😉 Obrigada. Beijinho
12 de Abril de 2018 às 16:10
É mesmo uma armadilha, Joana, não é?
Beijinhos!