Durante o Renascimento, a beleza feminina era estereotipada, uma beleza irreal e idealizada, tal como diz Maria Leonor Buescu, Literatura Portuguesa Clássica:
“A descrição dos atributos físicos anuncia o convencionalismo de uma beleza que tende para o estereótipo: claros olhos, louros cabelos, tez branca, faces rosadas.
Ao mesmo tempo, a mulher amada é caracterizada por uma seriedade clássica, por vezes fria no acolhimento das homenagens de amor, por doce riso, um gesto brando e sossegado.
Esta mulher encarna e, por assim dizer, simboliza a teoria platónica do amor ideal e inacessível e representa a imagem clássica de Vénus, a qual […] Camões converterá nas imagens plurais do seu universo vivencial. ”
Camões, como homem genial e viajado (17 anos por terras, na altura, tão exóticas, como Moçambique, Macau ou Índia), destacou-se e cantou a pluralidade da beleza feminina, por exemplo, nas trovas à escrava Bárbara: “Aquela cativa“.
Também Shakespeare (1564-1616) deseja uma mulher imperfeita, mas real.
Canta essa mulher de “carne e osso” neste poema:
“Minha amante nos olhos o sol não tem,
mais rubro é o coral que a sua boca,
se a neve é branca, o peito é escuro e bem,
se há toucas de oiro, negro fio a touca.
Vi rosas brancas, rubras, damascadas,
não tem rosas na face, ao contemplá-la,
e há essências que são mais delicadas
do que o bafo que a minha amante exala.
Gosto de ouvir-lhe a voz, contudo sei
da música mais doce afinação;
e uma deusa a passar jamais olhei,
a minha amante a andar põe pés no chão.
Creio no entanto o meu amor tão raro
quão falsas ilusões a que comparo.
William Shakespeare, Os Sonetos de Shakespeare, trad. Vasco Graça Moura
São assim os génios, destacam-se do grupo e respiram o ar do Futuro!
De um Futuro que ainda não veio!
Nós, cinco séculos depois, começámos a discutir a falta de sentido da beleza padronizada, cada vez mais tirana desde que todas as imagens publicadas são editadas.
Imagens da ilustradora Stephanie Deangelis, encontradas no HWTF.
27 de Abril de 2018 às 18:53
Gênios ainda estão sendo compreendidos😁Amei o post.💕Vou compartilhar!😘
28 de Abril de 2018 às 17:40
Muito verdade 😉
1 de Junho de 2018 às 12:44
Eu nunca apreciei padrões e fugi de todos mas tive sorte que a casa tinha uma mulher que me ensinou a traçar meu próprio Norte. Sou grata a ela por não me impor moldes e me ensinar a não me enfiar neles. rs
bacio
2 de Junho de 2018 às 16:13
Lunna, penso que é mesmo uma das lições mais importantes da vida!
Que sorte!
Bacio!