Michael Puett é professor catedrático de “História Chinesa” na Universidade de Harvard, onde dirige o Departamento de Estudos Religiosos.
Nesta palestra, coloca em causa a nossa forma de viver moderna e esclarecida.
Quantas vezes não ouvimos e dissemos que o importante é sermos fiéis a nós próprios, encontrarmo-nos e amarmos as nossas qualidades e defeitos? Eu não paro de dizer isso.
Puett apresenta outra perspectiva acerca desta questão que me tem dado que pensar.
Já há mais de dois mil anos que vários filósofos chineses dizem que nós não nascemos com a tal identidade que andamos, no mundo ocidental, tão furiosamente à procura.
Aliás, dizem que nós somos, mal nascemos, exteriormente e interiormente, uma enorme confusão, “a mess”, e relacionamo-nos, de imediato, com outros seres em total desordem, os outros humanos.
Reagimos, desde bebés, por padrões, sem a possibilidade de escolha que muitas vezes pensamos que temos.
Como?
Na infância, aprendemos a reagir em espelho: se nos sorriem, sorrimos; se forem rudes connosco, respondemos com agressividade.
Estes são só dois exemplos de padrões básicos que muitas vezes nos condicionam a vida: habitualmente já nem é preciso serem muito rudes connosco, porque o nosso sistema de resposta é tão automático que reagimos, desde logo, com agressividade a um mero esgar antipático. Ou seja, não estamos a reagir àquela situação específica, mas a um acumulado e a deixar o padrão funcionar.
Este nosso comportamento por padrão explica o motivo pelo qual tendemos a repetir o mesmo erro ao longo da vida: ou somos sistematicamente pouco exigentes nas relações amorosas ou deixamos que um chefe nos humilhe; ou reagimos de forma particularmente agressiva quando somos contrariados ou estamos em stress constante…
Geralmente, justificamo-nos dizendo que temos uma personalidade passiva, reactiva, mais dominadora,…
Michael Puett explica, assim, a origem da maior parte dos nossos comportamentos, recorrendo à nossa tendência interna para repetirmos padrões que interiorizámos na infância e adolescência, sobretudo.
Acrescenta que esta tendência para nos aceitarmos é perigosa e não vai deixar-nos ser melhores pessoas e mais felizes.
A resposta passa, então, por quebrar o padrão.
Como?
Os chineses quebram-no através de rituais.
O ritual é extremamente importante nesta cultura ancestral, pois surge como uma oportunidade para interromper a vida diária, com as suas tensões, e introduzir um elemento novo.
Há até um ritual muito curioso que consiste na troca de papéis familiares: o pai assume o papel do filho e o filho o papel do pai.
Repete-se o ritual até se interiorizar a nova dinâmica.
Puett sugere que tentemos fazer o mesmo.
O professor dá um exemplo que aqui em casa (mea culpa!) acontece com frequência.
No final do dia, estamos cansados e sem paciência e é muito fácil rastilhar uma discussão. Ninguém tem muita consciência de que está a reagir já respondendo ao padrão habitual e respondemos (eu respondo, na verdade!) de forma menos simpática porque estou rabugenta e com tarefas por fazer.
Criar um ritual pode ajudar e é simples. Fazer algo inesperado como apagar as luzes e colocar velas na mesa, música ambiente, quebra o padrão e potencia algo novo.
Já experimentei e cada um levou o seu prato para jantar na mesa da rua à luz das estrelas.
No Inverno, não sei se terei a mesma presença de espírito, mas fica o registo positivo.
Na minha vida profissional, observo diariamente que os adolescentes mais problemáticos respondem a padrões. Uns dias melhor, outros nem tanto, tento quebrar o padrão e reagir de forma inesperada. Não ripostar a uma provocação e, posteriormente, num outro momento da aula, colocar-lhe a mão no ombro, transmitir-lhe uma mensagem de calma, uma advertência individual e/ou um reforço positivo costuma fazer milagres.
Claro que só é bem sucedida quando eu consigo quebrar o meu padrão e não reajo com impulsividade a uma agressão.
Quebrar padrões exige muita autoconsciência, autodomínio e autodisciplina: três palavras que preciso de trabalhar e treinar muito.
O livro de Michael Puett tem este sugestivo nome e vai ser o meu guia.
23 de Setembro de 2018 às 23:06
Sensacional! Tão simples e tão complexo. E, curiosamente, faz algum tempo que algumas coisas me incomodam e, para deixar de ser a velha resmungona, mudei minha postura frente aos incômodos. Resumindo: mudei alguns padrões. Funcionou muito e lendo seu texto minha ficha caiu! Ótima semana pra vc! beijo
24 de Setembro de 2018 às 17:55
Foi o que me aconteceu, Helka; também comecei a achar-me uma resmungona 🙂
Uma excelente semana, Helka!
Beijinhos!