A solidão acomete-nos quando não encontramos, pelo caminho, pessoas que tenham uma visão do mundo parecida com a nossa.
Acontece-me muitas vezes.
Por isso, são tão importantes na minha vida pessoas como o Miguel Esteves Cardoso e a minha Teresa.
Mais a minha prima, claro, que partilhou comigo esta crónica.
A solidão nova
Começo a odiar o tempo que passo sozinho sem ela. É uma sensação nova para mim, a solidão.
Casámos há dezoito anos. Estamos escondidos. Quanto mais nos amamos mais temos de fugir. Somos como aqueles que não têm para onde ir.
Os lugares onde vivemos estão cheios de surpresas, trabalhos, deveres, emboscadas. As pessoas apanham-nos nas malhas delas. Tens de vir aqui, preciso de falar consigo, tenho um desafio para ti.
Começo a odiar o tempo que passo sozinho sem ela. É uma sensação nova para mim, a solidão. Sempre tive medo dela. Começo a saber que tinha razão.
É uma consequência inesperada do amor, a solidão. Eu quero estar sozinho – mas é sozinho com ela, sozinhos os dois, eu dentro de um livro, ela dentro doutro e mais nada a passar senão a brisa. Soa mal porque é verdadeira esta malvadez de não querer mais nada.
Começo também a perceber, depois de tantos anos de amor contínuo, que a minha alma, a minha maneira de ser, a minha personalidade, a minha solidão particular, não existem só em mim. Existem através da Maria João, da maneira como ela trata comigo, da maneira como somos um para o outro.