O mês de janeiro é o mês de renovação, mês dos “ses”, do “talvez”, do “é possível”.
Devia ser um mês optimista.
Para mim, sempre foi um mês difícil, tristonho e cinzento: está um frio que não se aguenta e não há luz.
É um mês recolhido e contemplativo.
Ora toda a gente sabe que isto de contemplar muito o interior tem o seu preço, ficamos meditabundas a chinelar pela casa.
Como ninguém nos quer nesse estado em que nos dá para questionar e nada produzir, enchem-nos de néon, vibrações, barulhos e afazeres inúteis.
A estridência continua com notícias e polémicas fabricadas todos os dias para nos entreterem.
Este poema de Rudyard Kipling é para repetir baixinho e manter no pensamento durante todo o ano de 2019.
♥
SE
“Se fores capaz de não perder a cabeça quando todos à tua volta
Perdem a deles e te culpam por isso,
Se fores capaz de confiar em ti mesmo mesmo quando os outros duvidam,
Mas aceitando perguntar a ti mesmo se não terão um bocadinho de razão;
Se fores capaz de esperar sem deixar que a espera te canse,
Ou sendo alvo de calúnia te recusares a caluniar,
Ou sendo odiado não te deixares levar pelo ódio,
Sem te tornares sobranceiro, nem te perderes em palavras ocas;
Se fores capaz de sonhar, sem deixar que os sonhos te escravizem,
Se fores capaz de pensar, mas não cruzares os braços;
Se fores capaz de viver o Triunfo e a Desgraça
Tratando-os, a ambos, como os impostores que são;
Se fores capaz de suportar ver a verdade das tuas palavras
Deturpada por velhacos para a transformarem em armadilhas para os tolos;
Ou vendo as coisas a que dedicaste a vida, feitas em pedaços,
Te vergares para as reconstruíres com ferramentas já gastas;
Se fores capaz de juntar numa mão cheia todos os teus ganhos
E arriscá-los num “cara ou coroa”,
Perder e começar do zero
Sem nunca soltar um lamento;
Se fores capaz de obrigar o teu coração, o teu espírito e o teu corpo
A servirem a tua vontade mesmo depois de exaustos,
E assim manteres-te de pé quando já nada resta dentro de ti
Excepto a força que lhes diz: “Aguentem!”;
Se fores capaz de falar às multidões sem perder a virtude,
Caminhar com reis sem deixares de ser simples,
Se nem os teus inimigos, nem os teus amigos mais queridos te conseguem magoar,
Se todos os homens contam contigo, mas nenhum dispõe de ti;
Se és capaz de preencher o fugaz minuto
Com sessenta segundos vividos plenamente,
Tua é a Terra e tudo o que nela existe;
E – o que mais importa – serás um Homem, meu filho!”.
♥
Mauro Evangelista ilustrou o poema de Rudyard Kipling e o livro já vive cá em casa há anos.
Não sei se alguma vez lerei o poema à Beatriz.
Penso que, quando tiver idade para entendê-lo, não vai estar muito disponível para ouvi-lo dito pela mãe.
Pode ser que um dia lho deixe em cima da cama…