Preocupações naturais
Eu não tinha muita coisa e hoje tenho
a soma dos teus passos quando desces
a correr os nossos treze degraus e
me prometes: até logo. Mas se
nada (ou só o nada) está escrito,
quem mais ama é quem mais tem
a recear. Com isso, passo horas
num rebate de dramáticos motivos:
engano-me na roda dos temperos,
ponho sal na cafeteira, maionese
no saleiro, vejo o mel mudar de cor
e se me chama o telefone empalideço
como o rosto do relógio da cozinha.
Só sossego quando as gatas me garantem
que chegaste e posso então, aliviado,
unir-me ao coro de miaus que te recebe,
para mais uma noite roubada ao escuro.
José Miguel Silva
Imagens: IGNANT
2 de Fevereiro de 2019 às 21:59
Voltar ao teu Frasco de Memórias e sorver-lhe os aromas é sempre um momento de felicidade. Volto sempre, emociono-me com os textos ( não só os dos poetas , mas também os teus), com as imagens, com todas as tuas escolhas …
Devia agradecer-te mais vezes, mas fico a usufruir o momento…
Bem-hajas, Ana!
4 de Fevereiro de 2019 às 19:52
Margarida, que saudades! A nossa vida é composta por tantas vidas, não é?
As tuas palavras tocam-me muito, porque sei que são sinceras e porque são tuas!
Um abraço muito apertado!
3 de Fevereiro de 2019 às 16:10
Ah, um belo poema para se ler num domingo de sol, ainda que o calor esteja a derreter a pele-alma. A poesia sempre nos salva de nossos sufocos humanos.
bacio
4 de Fevereiro de 2019 às 19:45
É verdade, Lunna, a poesia salva-nos de todos os sufocos!
Bacio!