São assim os poetas…
Carlos Drummod de Andrade descreveu-me, em 1945:
Alguns amores passaram,
mas a vida não se perdeu,
o coração continua aqui
e mantenho-me nua na praia,
a apanhar o vento frio e o calor do Céu.
É para lá que olho.
Os amigos são a maior dádiva deste meu percurso louco, e são, simultaneamente, a maior causa de dor. São tão excepcionais, mas desaparecem.
As minhas perdas acontecem abrupta e tragicamente. Fico sozinha no mundo.
Mas “o coração continua”
“nu na areia, no vento…”

Consolo na praia
Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.
(Declamado pelo Drummond, aqui.)

Imagens de amigas despidas, como sempre devem estar as amigas, do blog IGNANT.