
Durante a adolescência e pelos meus vinte anos, morri muitas vezes de Amor.
Da forma mais sofrida possível.
Este poema de Maria do Rosário Pedreira devia ser dobrado com a bula dos antidepressivos que compramos quando nos sangra o coração imaturo.
Na altura em que me afundava em choro e Chico Buarque, não acreditava num futuro feliz, a minha vida acabava no momento em que “o amor da minha vida” tinha a frieza demente de acabar comigo.
Inevitavelmente, apareceram outros amores, uns mais certos do que outros, que ajudaram a estruturar o maior de todos: o amor-próprio.
♥
Ainda bem
que não morri de todas as vezes que
quis morrer – que não saltei da ponte,
nem enchi os pulsos de sangue, nem
me deitei à linha, lá longe. Ainda bem
que não atei a corda à viga do tecto, nem
comprei na farmácia, com receita fingida,
uma dose de sono eterno. Ainda bem
que tive medo: das facas, das alturas, mas
sobretudo de não morrer completamente
e ficar para aí – ainda mais perdida do que
antes – a olhar sem ver. Ainda bem
que o tecto foi sempre demasiado alto e
eu ridiculamente pequena para a morte.
Se tivesse morrido de uma dessas vezes,
não ouviria agora a tua voz a chamar-me,
enquanto escrevo este poema, que pode
não parecer – mas é – um poema de amor.
10 de Novembro de 2019 às 22:47
Como não se identificar com este poema?
Como não se identificar com o texto?
Só quem nunca quase morreu de amor!!!
Ótima semana a vc.
Audeni
São Paulo, Brasil
12 de Novembro de 2019 às 11:10
Muito verdade, Audeni!
Agora, gosto mais de viver de Amor 🙂
Mas já morri muito!
11 de Novembro de 2019 às 10:48
Amor… rima com dor, cor, ardor, suor, sabor, humor, etc, etc, etc
Amor rima mesmo com a Vida!!!
12 de Novembro de 2019 às 11:09
Rima com Vida, sim, Dulce.
Com a idade, cada vez estou mais convencida de que se há dor não é Amor 😉