Fernando Assis Pacheco foi dos primeiros poetas portugueses a tratar o tema da Guerra Colonial na sua obra.
Assumidamente contra a guerra, o poeta acabou por embarcar e ficar marcado pela experiência na frente de batalha (foi, inclusivamente, retirado por motivos psiquiátricos).
Diz o filho que a “guerra nunca saiu dele”.
Ficou-lhe aquela “morrinha”, no viver, como o poeta dizia quando questionado acerca da sua evidente melancolia.
Mas é este homem que, provavelmente por ter conhecido o lado medonho do ser humano, consegue reconhecer o sentimento mais nobre, o Amor.
Esta definição que escreve, no poema “Esta areia fina”, é tão simples e tão plena.

Esta areia fina
Não sei
se o que chamam amor é este apaziguamento.
Não sei se comias fogo. Tuas abelhas
voam agora em círculos tranquilos.
Mães serenam seus filhos no ventre,
não sei se o que enfim chamam
amor é esta areia fina.
.
Agora estamos um dentro do outro,
fazemos longas visitas deslumbradas
porque “o nosso prazer lembra um rio vagaroso
no meio de juncos ao cair da tarde”.
.
As palavras tornam-se esquivas. Com o silêncio
falaríamos melhor de tudo isto.
Não sei se o que chamam amor
é a cama desfeita o sol fugindo,
uma vontade louca de beber
a grandes goles a noite entorpecente.
.
Com o silêncio, o silêncio sem nome:
morrermos a meio do filme
simples, calada, delicadamente.
Eras tu, amor? – Era eu, era eu!
.
Um barco junto à margem. E cegonhas.
***
Imagem: IGNANT (gosto tanto desta fotografia que já a usei…)
O podcast do Expresso, Palavra de Autor, foi uma descoberta recente mas muito feliz. Foi nesta plataforma que ouvi a entrevista ao filho de Fernando Assis Pacheco, João Pacheco.