Não sei se a pandemia é o resultado de uma conspiração chinesa, se acontece porque a Natureza está saturada dos humanos ou, pelo contrário, se é a consequência dos humanos se terem esquecido que fazem parte da Natureza, ou se foi Deus ou um demónio que decidiram dar-nos uma lição de humildade.
É um vírus poderoso, mas acredito que lhe falta a grande capacidade humana de luta: a inteligência é uma prerrogativa nossa e é ela que conduz à ciência.
A minha esperança na ciência não é uma questão de fé, pois a ciência não é divina nem mágica; no entanto, tem-nos curado de muitas doenças e proporcionado conquistas inimagináveis.
Infelizmente, não lhe demos a oportunidade de nos curar da imbecilidade e de outras tantas ameaças mais ou menos concretas em que andamos mergulhados há séculos.
A maior prova de que a nossa sociedade já estava há muito doente é que o Conhecimento e a Educação têm sido desprezados e o virtuosismo futebolístico e outras alucinações (que nem virtuosas são) foram valorizadas e remuneradas insanamente.

Agora, dependemos de cientistas, investigadores, médicos e enfermeiros que tanto desprezámos e pedimos-lhe, despudoradamente, um milagre e, já agora, que arrisquem a vida, todos os dias, por nós.
E eles fazem-no!
Espero que, depois deste abalo, os valores que nos devem reger encontrem o seu lugar e que quem salva vidas, quer seja com um gesto humilde, quer seja com rigor científico, passe a ser o nosso herói. E justamente divulgado e remunerado.

Estas palavras de Nick Cave, publicadas no Blitz, não são científicas, são poéticas, o que é mais ou menos a mesma coisa. A minha amiga Carmen partilhou comigo a resposta do cantor à grande pergunta do momento:
“o que fazemos agora?“.
[…] o músico admitiu que “os tempos mudaram”, e que agora “enfrentamos um inimigo comum – imparcial, insensível e de magnitude incomensurável”, pelo que “não é tempo de nos abstrairmos”, e sim de “sermos cautelosos com as nossas palavras e as nossas opiniões”.
“Teremos de nos recuperar, não só pessoalmente como socialmente”, continuou. “No futuro, ser-nos-á dada a oportunidade de nos refugiarmos numa versão antiga de nós e do nosso mundo – insular, interesseiro e tribalista – ou de perceber as ligações e uniformidades de todos os seres humanos”.
“Em isolamento, vamos ter de decidir entre o que queremos preservar do nosso mundo e de nós próprios e o que desejamos descartar”.

As metáforas dos nossos mundos são da autoria da fotógrafa catalã Andrea Torres Balaguer.
7 de Abril de 2020 às 14:57
“Espero que, depois deste abalo, os valores que nos devem reger encontrem o seu lugar … ” realmente, já há muito nos incomoda, a todos nós, a perda de valores, e infelizmente, refletindo um pouco sobre como muitos estão se comportando diante da atual situação, ainda teremos muito que aprender sobre humanidade, gratidão e amor ao próximo.
7 de Abril de 2020 às 15:48
É muito verdade, Hanni. Aqui em Portugal, apesar de algum pânico que leva ao extremo egoísmo, têm aparecido exemplos positivos, também, mas a caminhada é muito longa. Oxalá, aprendamos algo de bom com toda esta situação. Votos de muita saaúde!
8 de Abril de 2020 às 6:04
Outro dia, conversava com o mio amore e disse a ele que a natureza há muito se cansou de nossa prepotência. Não sei quando foi que começamos a nos achar melhores que tudo e todos, a não nos importar com nada. A natureza levou bilhões de ano para compor esse planeta e estamos levamos menos de mil para acabar com tudo e vamos nua velocidade impressionante. E passamos por cima de tudo e todos.
Ando com preguiça das notícias do mundo, das pessoas. Me fechar a casa está sendo fácil porque me afasta de pessoas ignorantes e que gostam dessa condição. É perturbador ouvir os líderes de várias nações mais preocupados com a economia que com a população e ver o resultado disso em menos de 24 horas. Pior é que na década passada houve uma crise que atingiu os principais bancos do mundo e houve uma correria emergencial em salvá-los. Um medo tomou conta das bolsas e pronto… num estalar de dedos brotou dinheiro para salvá-los e foi feito todo o sacrificio possível nesse sentido. Passou o tempo e a crise afetou a nós, pessoas e o que se faz? Pessoas podem morrer, a economia não pode sofrer. Perdi o ar com tantas asneiras que eu ouvi.
Aqui no Brasil não esperava nada diferente, até porque o meu maior pesadelo foi a eleição do sujeito que lá está a brincar de presidente.
Enfim, sobreviver iremos, mas como será esse mundo pós pandemia? Bem pior que antes, eu acho. E não se trata de falta de fé, mas de consciência por tudo que tenho observado.
bacio
10 de Abril de 2020 às 17:07
Lunna, é uma análise muito triste mas muito lúcida.
Salvámos bancos e fomos ainda insultados, porque “vivíamos acima das nossas possibilidades”.
Agora, os bancos conseguem mais um negócio incrível para emprestarem dinheiro a empresas aflitas ganhando ainda um juro considerável. Devemos agradecer-lhes?
É demasiado repugnante!
Muitas vezes também me falta a esperança!
Alguns sobreviverão a esta pandemia, outros não.
Que fustigada foi a sua querida Itália!
Um grande abraço com votos de muita saúde!
Bacio!