22:00h
Criança -Vamos conversar sobre quê?
Adulta – Sobre o João Pestana. Já está nas portas da cidade.
Criança – Não me enganas! Vamos falar! Então, quando é que aprendeste a ser adulta?
Adulta – Adulta?! Eu? Hum! Deixa ver… talvez blablabla… viver sozinha… blablabla… estudar fora… resolver situações difíceis… blabla…
Zzzzzz!
Insónia- Olá, Adulta!
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Esta fé nos adultos é a maior fantasia que perpetuamos na imaginação das crianças; bem mais ilusória do que o Pai Natal ou o Coelhinho da Páscoa.
Não temos alternativa, seria insuportável surgir neste planeta pequeno e vulnerável e saber a verdade: estamos cercados por criancinhas com mais de 1,50m e muitos deles dirigem o mundo! Criancinhas que erram e estragam, mas cujos atos provocam consequências bem mais graves do que partir um carrinho, espremer o gato num abraço ou mentir à mãe.
♥
Manuel António Pina respondeu com mais sinceridade do que eu à questão “Quando é que aprendeste a ser sdulta?”, em 1983, no livro O pássaro na cabeça.

“Parece que crescemos mas não,
somos ainda do mesmo tamanho.
As coisas que à nossa volta estão
é que mudam de tamanho.
Parece que crescemos mas não crescemos,
foram as coisas grandes que há,
o amor que há, a esperança que há,
que ficaram mais pequenos.
Estão agora tão distantes
que às vezes já mal as vemos.
Por isso parece que crescemos
e somos maiores que antes.
Mas somos ainda como dantes,
talvez até mais pequenos
quando o amor e o resto estão distantes
que nem vemos como estão distantes.
Julgamos então que somos grandes
e já nem isso compreendemos!”
A fotografia é da madrilena Elena del Palacio.