A inquietação é o poderoso motor da evolução e da criação humanas.
É a condição da nossa existência, o sinal da nossa consciência da vida.
No entanto, se em excesso, para os comuns mortais, a inquietação deixa de ser criadora e torna-se paralisante, ao transformar-se em angústia permanente.
O estado ansioso, na verdade, liga-se à previsão de futuro apenas presente nos animais racionais: quando esquecemos o “carpe diem”, surge o desassossego, a dúvida, a interrogação e a mudança transformadora.
No último Original é a Cultura – SIC, o tema foi a Inquietação.
Dulce Maria Cardoso refere, no final, a inquietação mais menosprezada pela sociedade: aquela provocada pelo desgosto amoroso.
De forma bem-humorada mas muito séria, a escritora defende, com toda a legitimidade, a baixa por desgosto de amor.

Num dos episódios Os Herdeiros de Saramago -RTP, valter hugo mãe alerta para o antídoto mais eficaz contra os efeitos nefastos da inquietação: a amizade.
Sugere, com a sagacidade aparentemente ligeira que o caracteriza, que devia haver uma lei que proteja as amizades como há leis que protegem os cônjuges.
A distância geográfica voluntária dos amigos devia ser, inclusivamente, taxada: o amigo que se ausenta tem obrigação de indemnizar quem fica para trás, através de uma pensão que compense o abandono. Em alternativa a este imposto, os amigos poderiam sempre ser presos e nós iríamos visitá-los a uma cadeia perto de casa e levar-lhes bolachas amororsas.
Rendi-me a esta ideia!
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No final do programa moderado por Cristina Ovídio, Rui Vieira Nery sugeriu “I Cover the Waterfront”, uma música digna de quatro semanas de baixa, interpretada pela diva do desencontro amoroso, Billie Holiday.