Os nossos pais viveram sempre na mesma cidade.
Nós precisamos de nos situar geograficamente se falamos ao telefone.
Quando éramos pequenos, corríamos pelo pátio, pelos quintais, atrás das risadas e dos chilreios.
Agora continuamos a correr, sempre atrasados, sempre em urgências.
Dantes falávamos de viagens, projectos, sonhos e pequenos luxos.
Hoje falamos da crise, da precariedade dos nossos empregos; evitamos os projectos adiados e já nem referimos os sonhos adormecidos.
O que aconteceu ao brilho que nos antecedia?
O que está a acontecer à nossa pátria que, como diz o Caetano, devia ser mátria?
Tomai lá do O´Neil
Para todos os primos da minha geração: Nós não somos os perfilados de que fala O´Neil!
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Perfilados de medo
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Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
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Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que fomos, do que não seremos.
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Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.
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Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido.