As linhas de comboio e os túneis fazem parte das minhas memórias de infância e das da minha família: vivemos perto do túnel das Alhadas (uma vila perto da Figueira da Foz) – uma notável construção do último quartel do século XIX.
A minha Avó era do tempo da tradição de “furar o túnel” e fê-lo, com o meu Irmão e com a minha Mãe, já com 80 anos.
A minha Mãe corria todos os dias para o apeadeiro para ir de comboio para o Liceu.
Eu e a minha prima do coração fazíamos piqueniques com leite cor-de-rosa (um pó maravilhoso que o meu Tio Manel trazia de terras distantes)… perto do túnel.
Por todos estes motivos sinto-me muito feliz quando vou com a minha prima, trinta anos mais tarde, passear junto à linha de caminhos-de-ferro.
Em excelente companhia.
Muito discreta e com quem partilhamos segredos e confidências.
Embora, às vezes, não disfarcem sorrisos como este.
A única tristeza é que, num golpe de génio, num país de pessoas pobres, acaba-se com um meio de transporte acessível, depois do investimento em caminhos-de-ferro estar feito.
Mas de golpes de génio já estamos todos saturados!