Quatro livros!
Quatro músicas.
(E esta não é engano…)
Quatro filmes!
Quatro anos!
Tenho procurado encaminhar a Beatriz para uma visão fraterna entre os Homens: um olhar sobre Nós e sobre o Outro que procure o essencial e ultrapasse a superfície – a cor, a roupa, o tamanho do nariz, …
Mas há pouco tempo a reacção da Beatriz surpreendeu-me:
-Não gosto de dar beijos a caras escuras. As caras escuras têm coisas más.
-O quê?!
-O G. diz que as caras escuras, chamam-se morenas, têm coisas más.
-O G. está enganado. Como sabes, o G. faz muitos disparates na escola.
Tomei consciência de que, para o bem e para o mal, a Beatriz já não está na redoma familiar.
Há temas que temos de retomar.
Encontrámos estas árvores no Parque Eduardo VII, no ano passado.
E temos partilhado as nossas noites com Karim.
Tal como a Beatriz, Karim gosta muito de ir ao mercado com a Mãe.
E o que aconteceria à Beatriz se se perdesse da sua Mãe?
Ficaria com “lágrimas a deslizar pelas faces abaixo”.
Talvez em Estremoz não encontrasse tantas árvores grandiosas, seculares e generosas.
Talvez um embondeiro não lhe desse pão-de-macaco com facilidade.
Mas teria uma Mãe a partilhar a aflição da Mãe Kahdija.
E a sonhar com a sua mão.
E com o seu abraço.
Vivemos em contextos muito diferentes, mas o livro salienta a igualdade dos sentimentos primordiais: o amor pais/filhos e o respeito homem/natureza.
Temos de lê-lo mais vezes!
Escrito por Régine Raymond-García, depois de uma viagem a Burquina Faso, e ilustrado por Vanina Starkoff.
A edirora: OQO.
Continuamos com as nossas visitas frequentes à Biblioteca e trazemos alimento, cada vez mais partilhado, porque os meus livros vão ganhando, muito lentamente, algum espaço.
Ontem, este elefante com manchas lilases seguiu-nos até casa; “o que não tem nada de estranho”.
Tem o hábito de observar formigas a caminhar nos seus carreiros, o que é um comportamento perfeitamente natural na maior parte dos elefantes que conhecemos.
Até que se apaixonou por esta formiga irresistível com cintura de vespa.
E perseguiu-a até ao formigueiro, que é o que costumam fazer todos os apaixonados.
Trata-se de uma história de amor feliz: um amor correspondido.
E pleno de jogos e sensualidade.
Agora, talvez um pouco estranho seja o bebé deste amor.
Ou talvez não.
Um livro sem constrangimentos reais e onde tudo é possível.
Um livro que ensina a imaginar sem limites e onde a estranheza está, sem dúvida, mais nos meus olhos do que nos da Beatriz.
A professora Guida disse-me que a Beatriz pede sempre para intervir nos momentos de leitura e que tem sentido de humor.
E eu gosto de pensar que José Campanari (a contar a história!) e Roger Olmos têm alguma coisa que ver com isso.
A editora OQO.
2014 trouxe uma nova regra que me impus e tenho conseguido cumprir: não comprar livros.
Excepto na Feira do Livro ♥
Este livro viajou desde a Feira do Livro de Coimbra, mas ganhou um novo fôlego a partir do momento em que a Beatriz fez o seu primeiro corte de cabelo.
Não foram pontinhas, foi mesmo um corte: ela adorou cada momento.
Quando reparei, estava ela assim, ao pé da Avó Rosa, nas mãos da Michelle, no salão da Anne na Figueira da Foz (Ilídio Design), as melhores cabeleireiras que eu já conheci.
A identificação com a Vera, a protagonista e narradora do livro de Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso foi, finalmente, plena.
Entramos, também, no salão da Mila pela mão da Avó Ju, pois “A Mila é especialista. Arranja-nos a cabeça por fora, mas também chega lá dentro.”
Até que, um dia, “a tragédia aconteceu”.
Identificação total!
Desta vez, minha (tantas vezes)!
E é nos meses que se seguem à “tragédia”, que a Vera vai observando, reflectindo e amadurecendo:
As meninas não têm de usar cabelo comprido e os meninos não têm de usar cabelo curto.
Lema válido para muitas outras ilações que se lêem num livro que aborda um tema aparentemente frívolo.
O caminho para a Felicidade é individual e pode ser descoberto (ou pelo menos vislumbrado), enquanto o cabelo cresce.
Sem preconceitos.
A editora só podia ser Planeta Tangerina!
Desde pequenina que a Beatriz adora bibliotecas e livrarias.
Em Estremoz, não existe uma boa livraria, mas somos assíduas visitantes da Biblioteca.
Em Coimbra (e na Figueira da Foz), éramos clientes Bertrand: sentávamo-nos no chão e partíamos à descoberta.
O Papagaio de Monsieur Hulot veio assim para nossa casa.
Tudo na vida deste Monsieur acontece de forma inesperada e surpreendente.
Desde o nascer do dia: agora é de noite!
Mas acendo o interruptor, abro a primeira super-página do livro, e o dia amanhece!
A acção desenrola-se à volta destes pormenores do Monsieur Hulot (ainda mais despistado do que eu) e da compra de um papagaio com muita vontade de fugir.
Vale-lhe o apoio da velhinha Torre-Eiffel para atingir os seus intentos e apanhar o papagaio com a mais nobre missão do mundo.
Sim, Monsieur Hulot é muito romântico!
E a Beatriz, ainda antes de tagarelar ininterruptamente comigo, com os bonecos, com a Branquinha, com os legos, garfos, facas e copos,… apontava para a amada de Monsieur Hulot e dizia: “Mamã!”.
Como?
Eu não sou ruiva!
Mas esta personagem gosta muito de ler…
O livro não tem texto, mas as imagens são tão ricas e repletas de pormenores que nas primeiras 30 vezes que o folheei, fui sempre descobrindo detalhes cómicos e mais ou menos misteriosos.
O autor é David Merveille, e a personagem é inspirada na célebre personagem de Jaques Tati, como nos deixa adivinhar a última página do desastrado Monsieur Hulot.
A editora Kalandraka.
“Un jour, j’ai ramassé dans mon jardin le voile rouge d’une princesse lointaine.”
Princesas, do francês Philippe Lechermeier e Rebecca Dautremer, foi o primeiro livro que comprei para a menina que vivia dentro da minha barriga.
Não podia ser de outra maneira.
As princesas são irresistíveis.
E apetece ficar a olhar para elas a qualquer hora do dia.
Estas são prendadas e pouco convencionais.
E ainda surgem apontamentos cheios de humor.
E frases poéticas.
Da editora Educação Nacional.
Cresci com os livros da Anita, com Os Cinco, com o Asterix, com o Tintin, com telenovelas brasileiras, com o Principezinho, com os contos do Eça de Queirós (que a minha prima lia em voz alta, enquanto eu me dilacerava com o destino da pobre Aia), com a Mafalda, …
Mergulhava nestes universos tão distintos com a mesma entrega e com a mesma convicção e, no fim, fiquei como sou: mais humanista que feminista (ou machista) e com uma mão cheia de defeitos e virtudes que nada têm que ver com os livros que li…
Ou será que têm?
Em relação aos livros que a Beatriz lê ou filmes que vê, tenho um cuidado… obsessivo.
Na última visita à Biblioteca da Figueira da Foz, encontrei este testemunho da minha infância.
Li e reli este livro centenas de vezes quando era pequena.
São várias aventuras de personagens de vários pontos do mundo, com os seus respectivos estereótipos bem vincados.
E em que ser violento consistia nestas grandes maldades.
Mas em que os protagonistas são, invariavelmente, personagens masculinas.
As personagens femininas surgem, sempre, para compor o cenário doméstico e nunca intervêm em qualquer aventura.
E eu fico a pensar que, embora criança, tive a capacidade de filtrar o que me interessava do livro:
-a curiosidade relativamente a outras formas de viver e a outros povos, assim como o gosto pelas viagens.
Será que faço bem em exercer esta censura sobre os livros, músicas e filmes que a Beatriz vê?
Este é um livro cheio de Verão, de praia e de mar.
Com 35 cm de altura, obriga-nos a mergulhar nas ondas.
Comprei-o quando a Beatriz ainda gatinhava e, nessa altura, o livro, aberto, preenchia-lhe o horizonte.
Sem texto, Bernardo Carvalho leva-nos a “passear, a molhar os pés nas poças, a explorar as rochas onde se agarram os mexilhões e anémonas de muitas cores” (contracapa do livro).
Leva-nos ao prazer de estar na praia, desligar o botão “ter de” e parar.
E é esse o espírito que perpassa todo o livro.
O resto é para inventar. Nós damos nome às personagens, inventamos relações familiares, reconhecemos o Avô nestes bigodes…
Até que, “em menos de nada, já o azul inundou as páginas, fazendo-nos mergulhar” ( texto da contracapa).
É um livro de Bernardo Carvalho e da Planeta Tangerina.
A minha dupla preferida.
Este livro conquistou-me imediatamente.
O título e as ilustrações de Gabriel Pacheco tocaram na minha alma de viajante.
A primeira página confirmou as minhas fantasias.
Ofereci-o à Beatriz no seu primeiro aniversário e, como seria de esperar, só hoje, com dois anos e oito meses, é que começa a partilhar do meu entusiasmo pelo livro.
Mas talvez ainda não a fascine, completamente, este barco que anda sobre a terra, debaixo de água “como uma nave submarina” e que se amarra à janela no intervalo das viagens.
Um barco que nos permite dormir sobre as nuvens.
E petrificar soldados em guerra.
Mas também passear com os amigos.
Talvez ainda a encante apenas a razão pela qual o protagonista adiou a construção do barco:
“A [noite] de hoje não serve, porque estão todos levantados, e a mamã está a fazer pipocas.”
E, de facto, pode haver razão mais válida do que esta?
O texto é da francesa Anna Castagnoli e as ilustrações são de Gabriel Pacheco.
A editora OQO.
Este livro, de 1972, é um dos livros da Biblioteca que já requisitámos mais vezes.
Não sei até que ponto a Beatriz percebe o que este bebé anda a fazer dentro da barriga da mãe, mas gosta muito deste livro e fica sempre muito atenta quando eu faço o paralelo com a nossa história.
Este bebé, como qualquer outro que vive dentro do útero da mãe, anda tranquilo e feliz, até que percebe que, um dia, todos esperam que ele nasça.
Todos os elementos da família tentam convencê-lo com programas e estratégias mais ou menos aliciantes.
Até que o pai chega e traz o Beijo…
A história, da americana Fran Manushkin, fala-nos do Amor e da forma de vida mais pura que existe: a do bebé.
A ilustração, do premiadíssimo Ronald Himler, a preto e branco, ganha um destaque inesperado no fundo ocre que surge em cada duas páginas.
As personagens lembram-nos uma época já passada, mas são extremamente expressivos. Recordam-nos que os sentimentos de que nos fala o livro são universais e intemporais.
E é esse também o encanto deste livro!
A editora: a extinta Sá da Costa.
espaço reservado a desabafos tipo assim um bocadinho "crazy" "or not"
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