Em 1998, José Saramago discursou perante os membros da Academia Sueca acerca das incongruências do ser humano.
Afrontava-o o júbilo em que se vivia por se ter colocado uma sonda em Marte, quando em Terra tínhamos o caos e a fome. Não me lembro se citava especificamente o caso de África ou de outro continente.
Houve quem o acusasse de não valorizar a ciência.
Houve quem ficasse incomodado.
Houve quem não o compreendesse.
Quinze anos mais tarde, leio, no Público, que se inscreveram 150000 pessoas, para 24 vagas, num projecto que pretende iniciar a colonização do planeta Marte.
Um projecto de seis biliões de dólares (o que quer que isso seja)…
E voltei às palavras de Saramago. Cada vez mais sábias.
Razões para querer sair da Terra não faltam… mas o que motiva estas 150000 pessoas?
E os financiadores do projecto?
Tal como Vítor Belanciano, do Público, fiquei espantada:
“Estranho mundo onde os audaciosos são os que idealizam paraísos distantes, parecendo acreditar na fundação de sociedades sem conflitos, como nunca existiu, nem existirá. Enquanto quem deseja transformar a realidade mais premente, aqui e agora, com a consciência de que onde há pessoas haverá sempre tensões, mas também a possibilidade de justiça, da equidade e da promoção de novas ideias, é relegado para a posição de desejar o impossível.”
Vítor Belanciano (Público, 1 de Setembro de 2013)
A propósito, as inscrições para habitar Marte terminaram a 31 de Agosto.
Eu prefiro conviver com estas criaturas das crateras.
Não devem ser muito diferentes e estes bichos são muito mais divertidos do que os 24 que partem na nave espacial.
E já foram domesticados pela Beatriz.